Les seniors du chateau/ Os idosos do castelo
Revista: O Novo Observador
Nº 2388
Data: 15/08/2010
Artigo escrito pela repórter Marie Vaton, cidade de SalÃ?les - D-Aude (Sul da França).
Tradução feita por Suely Tonarque – psicóloga, mestranda em Gerontologia, PUC.
O meu interesse em traduzir o artigo foi pela opção dos idosos ainda terem o desejo de morarem juntos, dividirem e aprenderem a importância da convivência, que apesar de velhos ainda existe o desafio do novo. O novo do outro que chega, que se aproxima e que trás Vida e Histórias para serem contadas e escutadas.
Nossa época
Jeanne, 79 anos, iniciadora do albergue com Sylvie.
Em uma pequena cidade da região de Aude, cinco aposentados se instalaram em condomínio num castelo, local aberto às pessoas da terceira idade. Uma tendência em progresso, remédio contra a solidão e antídoto ao tédio.
Os idosos do castelo
A grama do parque amarelou um pouco debaixo do sol do sul da França. As ervas daninhas invadiram o terraço. E a água da piscina ficou verde em uma noite. Não importa. De longe, vista da horta, a propriedade Domaine de la Roque, com sua torre redonda e suas janelas com persianas vermelhas, não perdeu nada do seu estilo e brilho. Clémentine encolhe os ombros. De qualquer maneira, com 81 anos, ela não veio aqui para nadar ou correr uma prova de 100 metros. Ela esperava apenas um pouco de verde para escapar do calor sufocante de seu apartamento em Marselha e, sobretudo, companhia para não morrer nele sozinha. O anúncio era tentador: “Idosa procura idosos para compartilhar uma grande propriedade, no coração das plantações de vinhas de Languedoc, na orla do Canal do Sul da França, com sete quartos restaurados com sala de banho individual, um grande parque natural, um pequeno lago, um riacho... Mais de 300 metros quadrados em comum e barato: 300 euros por mês e por pessoa. Clémentine não demorou muito para se decidir. Depois de duas visitas, ela deixou seu apartamento em Marselha e se instalou em um grande quarto do castelo, ao lado de seus “novos vizinhos”.
Já moravam ali Sylvie, perto dos 60 anos; Jeanne, outra octogenária, rebelde e independente; Lulu, 66 anos, a artista da casa; e enfim Francis, o único homem do grupo, um “menino” com seus 52 anos. O pequeno grupo heterogêneo se formou graças a Cocon3S, o primeiro site de república para idosos. “Todos nós tínhamos um ponto em comum: tudo, menos a casa de aposentados”, explica Sylvie, a iniciadora do projeto. Pela internet, ela primeiro buscou o que existia para jovens aposentados sozinhos como ela. Durante certo tempo, ficou em dúvida se deveria oferecer uma casa à empresa Senioriales, que constrói condomínios fechados para jovens aposentados abastados. No entanto, com 58 anos, a perspectiva de viver com um único horizonte restrito a uma piscina com ondas e um terreno de golfe pareceu-lhe sinistro. “Eu não amo as prisões, ainda que douradas”, explica essa mulher pragmática e organizada, antiga vereadora. Era necessário achar uma alternativa. Inspirando-se no que se faz na Alemanha e na Dinamarca, ela teve a ideia de partilhar um espaço entre idosos. “Um espaço autogerido para que cada um se sentisse mestre de sua vida”. Que ideia é essa? Misturar as idades e os níveis sociais “para evitar a todo preço a vida em comunidade que acaba isolando o grupo do mundo” e achar um espaço que permitia se cruzarem sem atrapalhar um ao outro. O primeiro projeto fracassou. O segundo conseguiu concretizar-se “graças a um proprietário muito compreensivo que nos ajudou”. Agora faz seis meses que os cinco inquilinos aprendem a conviver. Cada um tem sua atividade. Francis cuida da horta; Sylvie faz desenhos; Lulu pinta; Jeanne pratica inglês em uma associação. Às vezes, saem um com o outro. “Não devemos ficar isolados”, adverte Sylvie. Dentro de alguns meses, uma ala do castelo ainda em obras poderá receber três novos residentes.
Quais são os critérios de seleção? Precisa ser indicado e aceito pelo grupo. “Depois, os sentimentos poderão intervir”, explica Jeanne. Cada futuro residente vem primeiro co-habitar alguns dias e, depois, um mês. Em seguida, juntamo-nos com ele e tomamos a nossa decisão. Com a coragem necessária para deixar seu universo de sua família ou dos amigos, Jeanne, com 79 anos “e meio”, acrescenta ela com um sorriso de menina, é uma das fundadoras do projeto. Uma alma rebelde e generosa. Com um caráter forte, antiga professora de matemática e militante do Movimento de Libertação das Mulheres (MLF), ela ainda luta pelos ideais de sua juventude: liberdade, igualdade e respeito ao outro. Ela tem abraçado esse projeto de corpo e alma desde a sua criação. Jeanne, a feminista, teve algumas desavenças com Francis, o único homem da casa. É necessário dizer que Francis não é fácil de se conviver. Um verdadeiro personagem com sua pança e sua barba grisalha. Um pouco eletricista, um pouco motorista de ônibus, Francis viveu várias aventuras na França inteira e agora está inscrito no programa de renda mínima. Grande beberrão, debochado incorrigível, Francis teve que se controlar para não ofender as mulheres do castelo: “houve choques e tive de pedir desculpas”, admite ele. Uma das moradoras, Edite, nunca o suportou. Ela nem abriu as suas malas e voltou imediatamente para a sua minúscula quitinete em Montepellier. Desde então, Francis tem se esforçado para ser simpático. Ele aprendeu a jogar suas latas de cerveja no lixo, a fumar seus cigarros fora do castelo etc. Por outro lado, as mulheres acabaram gostando desse homem solitário, mas com grande coração. “Ele está um pouco selvagem, mas nos ajuda a manter a casa”, explica Jeanne. “E também apazigua os conflitos”, pois entre eles, as tensões são palpáveis. Apesar de se esforçarem nos jantares diante de convidados, sentem que não são todos os dias que estão com o desejo de estarem juntos nessa refeição. “Quando se vive muito tempo só, adquirem-se pequenas manias de velhos, sem perceber”, explica Lulu. E agora é necessário dividir com os outros a sala, a cozinha e as compras. Para a caixa comum, cada um paga 10 euros por semana. E não é fácil, com 60 anos ou mais, aceitar as manias de uns e as venetas de outros. Juntos 24 horas por dia, fica difícil se aguentarem. “Qualquer coisa nos irrita”, admite ela.
Logo de manhã, começam as críticas, às vezes, brutais. O som da televisão que se ouve do quarto, o xixi do pequeno gato sobre o sofá, os pratos sujos na pia, até a maneira de tirar a pele dos tomates. Difícil de tomar distância quando sempre tem alguém na sua frente. A essas dificuldades da vida cotidiana, acrescentam-se as dificuldades relativas à idade. Às vezes, algumas estouram. Depois de uma vida solitária, não é fácil se encontrar velha no meio de outras velhas. O efeito espelho é perturbador. “Apesar de nossa vontade de autonomia, nós sabemos que um dia ou outro não poderemos escapar da casa dos aposentados”, explica Lulu. “Aqui é uma etapa mais que uma alternativa”. Após um mês, por mais que a Lulu se esforce, não consegue se adaptar... “Eu sabia que corria um grande risco”, diz ela. ”Entretanto, eu sempre arrisquei muito na minha vida”, conta essa sexagenária loira com olhos azuis. Como Clémentine, ela veio para “fugir da solidão”, da sua vida mesquinha na cidade de Manosque e dos seus domingos dominados pelo tédio, “que passamos diante da televisão por não ter nada o que fazer”. Além do mais, quando se vive só, tudo é mais caro. Lulu queria se dar de presente algumas viagens que sua aposentadoria não lhe permitia pagar. Primeiro, ela foi passar um mês na Tunísia para pesquisar as possibilidades de se mudar para lá. Contudo, já no hotel, ela se desencantou. “Eu estava incapaz de ir ao encontro dos outros, eu me sentia péssima”. De volta à França, ela encontrou Sylvie e se sentiu entusiasmada pelo projeto desta. O castelo seria o ateliê de pintura que ela nunca teve, um local de paz, harmonia e conforto. Muito rapidamente, Lulu, a estrela, com sua alma de decoradora, não suportou as caixas de mudanças e as de eletrodomésticos amontoadas umas sobre as outras em todos os cantos do castelo. “Cada residente veio com os próprios móveis. Então tudo se empilha”, suspira ela. Lulu, que sonhava com uma vida entre amigos, acabou tendo que gerir os conflitos entre vizinhos. “Eu sinto que eu não tenho meu lugar aqui”, disse ela, quase se desculpando. Lulu decidiu sair do castelo, procurar de novo um apartamento e fazer mais uma mudança. “Felizmente, com 66 anos, eu tenho ainda energia para refazer minha vida. Todavia, e amanhã?” Domingo, um novo inquilino chega. Tem 70 anos, convive com a doença de Parkinson de maneira muito digna. “Claude será o poeta que estava faltando aqui”, diz Jeanne. Nós sentimos que ele vai nos influenciar de uma forma positiva e que nos ajudará a superar nossas “birras.
Aluguel em conjunto está ganhando terreno
O balanço da onda de calor do verão de 2003 foi pavoroso: 15.000 falecidos, 3/4 dos quais tinham acima de 70 anos. Christiane Beumelle, psicóloga social, atordoada pelo “pavoroso isolamento dos idosos”, criou La Trame, uma associação “antissolidão”, “anti-isolamento” e “antiproblemas”. “A França tem 13 milhões de pessoas acima de 60 anos, e 1/4 destes vive sozinho”, explica ela.
Para essa geração, a primeira a vivenciar o divórcio e envelhecer com boa saúde, as casas dos aposentados não são nem um pouco adaptadas”. Recentemente separada de seus companheiros, ela achou então dois inquilinos para partilhar sua companhia e as despesas de seu apartamento em Vannes: “eu queria morar com pessoas de minha idade”. O primeiro aluguel em conjunto para idosos tinha nascido. Em junho de 2007, ela aplicou essa ideia à sua associação e decidiu montar “unidades de vida coletiva para 4 a 8 pessoas”, chamadas de Cocon3S (isto é, casulo Solidário, Sênior e Sozinhos). Para os candidatos se conhecerem, a associação organiza encontros em diferentes cidades da França. Desde então, cinco “casulos” foram criados e outros quatro estão em projetos. Sua iniciativa está incentivando “seguidores”. Atualmente, já existem dois novos sites: colocation-seniors.e-monsite.com e partage-senior.net. “No entanto, cuidado”, avisa Christiane Baumelle, “as repúblicas de velhos não têm nada a ver com as repúblicas de estudantes: aqui quando se muda, é para ficar muito tempo”.
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