16 de fevereiro de 2012

CASAMENTOS E DIVÓRCIOS ENTRE OS MAIORES DE 50 TÊM CRESCIDO MAIS DO QUE ENTRE OS JOVENS, SEGUNDO O IBGE

Folha de São Paulo, Especial, terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Muita lenha para queimar
CASAMENTOS E DIVÓRCIOS ENTRE OS MAIORES DE 50 TÊM CRESCIDO MAIS DO QUE ENTRE OS JOVENS, SEGUNDO O IBGE

DARIO DE NEGREIROS, HELTON SIMÕES GOMES, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Tenho 44 anos de casado. Tenho minha velhinha e não penso em trocar, não." Frases como essa, do aposentado Silas Moret, 79, são menos comuns do que no princípio da década. Segundo o IBGE, os divórcios entre maiores de 50 cresceram 28% entre 2000 e 2010. O aumento é superior ao registrado entre os jovens.
Mudanças físicas ajudam a explicar, diz Maria de Gotter, psicanalista especialista em gerontologia e em sexualidade. Nas mulheres, alterações hormonais causam calores noturnos, ganho de peso e dores durante a relação sexual. Já os homens se queixam de disfunção erétil.
Há ainda os fatores sociais. Por volta dos 50 anos, o casal vê os filhos saírem de casa e os pais adoecerem. Ocorre também de um ou de ambos os membros do casal se aposentar. "Marido e mulher se veem sozinhos em casa, como um casal desconhecido."
RENASCIMENTO
O primeiro marido de Ivone Avelar, 66, não gostava que ela tocasse acordeom. "Ele dizia que era coisa de nortista." Há 16 anos com o segundo companheiro, Ivone voltou a tocar e faz parte da Orquestra Sanfônica, de São Paulo. "Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida."
Para Mirian Goldenberg, antropóloga da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), as mulheres mais velhas dão mais valor à própria liberdade do que ao casamento ou à família. "Mulheres de 75 anos me dizem: Não quero casar, só quero dar beijo na boca." Já os homens "têm uma atitude oposta". "Eles valorizam mais a família."
Não significa que mães e avós não curtam ficar com filhos e netos. Querem isso e mais. "Querem ir ao cinema, tomar um choppinho." Superar os desafios dos 50 anos"é como renascer", diz Gotter.
"O DESEJO NUNCA ACABA"
Os dados do IBGE não levam em conta as separações informais. Bancário aposentado há 20 anos, V.B., 73, é casado, mas já não usa aliança. Em casa, o papo com a esposa "não passa do Bom dia, boa tarde, boa noite".
"Discutindo com minha esposa, falei que arranjaria outra mulher. Ela disse: Pode arranjar. Não trazendo para casa, está bom. Eu pensei: sinal verde". A amante preencheu o vazio e pode desabafar com ela, diz. "Não chego a ser apaixonado", pondera.
Apaixonados ou não, os maiores de 50 casam mais. Entre 2000 e 2010, a média de uniões cresceu 55%, acima dos 18% entre os mais jovens.
Quando o assunto é a vida sexual, os depoimentos são variados. "O casamento é assim: chega uma época em que vocês são amigos. Aquele fogo já era", diz Silas Moret, que mesmo assim não pensa em "trocar sua velhinha". Mais empolgado, V.B. diz que seu namoro é "normal". "Você vai para o cinema, para o teatro, para a cama."
A psicanalista Maria Elvira de Gotter diz que não se pode resumir a sexualidade ao ato sexual. "A relação sexual é só um componente da sexualidade, que é algo muito mais amplo: é o impulso de vida, é essa energia que te leva para frente", explica. "O desejo nunca acaba."

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